A Nova Emigração

A NOVA EMIGRAÇÃO

(Jovens que vão embora)

 O Primeiro Ministro defendeu há pouco tempo atrás que os jovens poderão hoje aproveitar boas oportunidades de emprego no estrangeiro. Não caiu bem, obviamente, à opinião pública, nem ao povo que elegeu políticos para ajudar a resolver os problemas do país, e não para os evitar.
Não faltaram críticas ao governante, e nem mesmo paródias à situação, como por exemplo: “Os finalistas de cursos superiores têm hoje três grandes saídas: Por terra, por mar ou pelo ar!” É claro que a situação é muito delicada. E por muito que demagogicamente se tente minimizar o problema e o prazo em que vamos ter de conviver com ele, esse prazo há-de ser longo e não depende efetivamente só de nós.
A solução e o resultado começam a ser visíveis: a emigração.
Nós já estamos habituados a este desígnio. “Demos novos mundos ao mundo…”. E tivemos de emigrar para esses mundos que ao tempo eram nossos (era quase mais difícil ir para as ex-colónias que para um país estrangeiro). Emigrámos para o Brasil, e outros países das Américas. Depois para a Europa central. E finalmente, nas últimas décadas, fomos recetores de emigração (de Leste, de África e do Brasil).
Hoje voltamos a ser nós que estarmos de “malas aviadas”. Já não são malas de cartão, mas modernos troleys de viagem. É a evolução da tecnologia e do bem-estar. Mas o que levamos metaforicamente dentro da mala, também não é o mesmo. E isso provavelmente vai mudar irremediavelmente as próximas gerações, cá e lá.
Nas décadas de 60 e 70 do século XX, partiu gente em busca de uma vida melhor, e de liberdade. Levavam apenas força de trabalho e espírito de sacrifício. Alguns descobriram a seguir o espírito empreendedor e transformaram a força dos braços em força da mente. Os resultados e as marcas ainda hoje são bem visíveis pelos quatro cantos do mundo. Mas a grande maioria dos emigrantes deste tempo partiu de Portugal, mas simultaneamente ficou cá. Muitos tinham família e alguns pertences. Foram com a intenção de melhorar a vida, mas nunca tiraram das suas cabeças e dos seus corações o projeto do regresso. Voltar com uma vida melhor e melhorar cá a sua situação. Mandavam o dinheiro que ganhavam lá e acrescentaram riqueza ao país. Os que levaram as famílias e deixaram crescer demasiado os filhos nas terras de emigração, raramente conseguiram traze-los de volta. Integraram-se e ficaram.
É exatamente esta realidade que nos pode levar a refletir sobre o que será o futuro da emigração portuguesa a partir do momento atual, tendo em conta a situação do emprego, sobretudo do emprego jovem, e ao convite quase formal e institucional para emigrar. De alguma forma o fenómeno já estava aberto com a facilidade de circulação na Europa, com a convergência dos currículos académicos, e a prioridade para a partilha cultural e de saberes, entre as universidades, com os diversos programas disponíveis. Claro que esta interação é excelente, ou seria, se o país tivesse condições de a utilizar e explorar no futuro, sempre num quadro de criação de oportunidades que viesse a fixar os jovens, indo de encontro às suas necessidades e expetativas. Mas tal não acontece, nem vai acontecer a curto prazo, mesmo que os políticos digam o contrário. 
Então que cenário podemos esperar no quadro do novo paradigma da emigração?
Em minha opinião consigo vislumbrar:
1.      Vantagens pessoais para os novos emigrantes que conseguirem enraizar-se nas sociedades de acolhimento, e vantagens para os países que os acolhem. Os jovens já não levam só, nem essencialmente força de braços. Levam conhecimentos técnicos, intelectuais e científicos. Conhecem melhor os idiomas. Integram-se melhor nas respetivas culturas, pelo conhecimento prévio e às vezes profundo que têm delas, possibilitado pelas tecnologias da informação (internet e televisão). Os países acolhedores passam a ter mão de obra muito mais qualificada, jovens técnica e cientificamente bem preparados que podem de imediato começar a produzir, com muita qualidade, cheios de motivação, com integração facilitada. E sem gastarem um cêntimo na sua formação.
2.      Desvantagens generalizadas para Portugal: vê sair cidadãos seus, ainda por cima jovens, numa população já envelhecida, agravando mais esse fenómeno social. Gastámos imensos recursos para os formar, oferecendo-os agora em completa gratuitidade a terceiros. Fica o próprio país, eventualmente, deficitário de grande qualificação (os melhores sairão). Provavelmente vão radicar-se em definitivo no estrangeiro, com as consequências económicas desastrosas (ao contrário da anterior emigração), porque não vão enviar para o país as suas remessas, dado que o seu futuro não passa por aqui. Os seus filhos já não serão portugueses - e se miscenizámos, e é bom, também os perdemos e é mau.
Podemos perguntar-nos se é dramática a situação? Pode não ser desesperada. Não acabará o mundo por aí. Mas temos de consciencializar-nos de que o fenómeno se iniciou e vai ter um impacto considerável. Mas que os novos emigrantes portugueses têm um perfil completamente diverso de tudo o que já conhecemos e experimentámos nesta matéria, isso é indiscutível. E que Portugal compromete profundamente as próximas gerações com a política (ou falta dela) para a juventude, com a questão do emprego jovem e, ultimamente, com as políticas de educação, disso é melhor não termos dúvidas.
Luís Matias (Agosto de 2012)

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