Baixa de Nascimentos

BAIXA DE NASCIMENTOS
(Admiro-me da admiração…)

Admiro-me da admiração de tanta gente - políticos, jornalistas, cientistas e peritos em sociologia e demografia e que arrastam para essa admiração e quase histeria, a população em geral, por razões mais que óbvias, conhecidas, cujas causas são absolutamente identificadas.

Admiro-me da admiração de quem faz conscientemente políticas e siga caminhos num sentido, e espera chegar exatamente do contrário da direção que leva. Há aqui insanidade nisto, não há?

Refiro-me a duas circunstâncias diferentes que têm chamado à ribalta uma mesma realidade, com alguma frequência. Uma é a “sustentabilidade da Segurança Social”, e a outra, que frequentemente lhe aparece como causa futura, é a diminuição de nascimentos.

A realidade coincidente é, naturalmente, a inversão da “pirâmide etária” em Portugal.

Nesta semana tem insistentemente chegado a raias de paranóia coletiva, o facto de termos o mês com menos nascimentos nos últimos 70 anos. Merecem-me muitos comentários, e uma reflexão profunda, esta questão.

Desde logo pergunta-se, que mundo e que Portugal estamos a deixar aos nossos filhos. E se amamos os filhos, teremos de perguntar-nos se queremos ter filhos para lhe deixarmos este mundo, esta herança, e se isso não é a maior maldade que podemos fazer-lhes.

Mas vejamos algumas realidades de políticas que a democracia produziu, umas bem feitas e mal aplicadas, outras mal feitas, outras mesmo ao contrário daquilo que tão desesperadamente hoje pare querermos (não sei se com uma pontinha de egoísmo porque se não houver sustentabilidade para a Segurança Social, é a proteção da nossa velhice que está antes de mais em causa).

*      Planeamento Familiar – Era imperioso. Foi até bem desenhado. Mas a sua aplicação transformou-o não em planeamento, nem numa boa educação sexual à população, mas numa gigantesca ação de distribuição e prescrição de anticoncetivos. Não ajudou as famílias a planear-se, mas apenas a prevenir os nascimentos. Então o que esperávamos agora?
*      Cultura de morte e/ou destruição – para lá da discussão ideológica, constata-se que o estado privilegiou a destruição de fetos ou possíveis conceções, financiando aborto a pedido, vulgarizando a distribuição da “pilula do dia seguinte”, discutiu, divulgou e pagou estas ações, em detrimento da formação, do acolhimento, do financiamento das famílias para terem condições económicas e afetivas para criarem esses bebés. E uniões cultivo de estéreis. Então o que esperávamos agora?
*      Apoio aos pais – Apesar de se ter se ter avançado significativamente nesta matéria, nos abonos de família, legislação do trabalho, subsídios de creche, bolsas universitárias, etc., fomos muito aquém do que deveríamos (e poderíamos ter ido) designadamente no apoio à mãe nos 2 primeiros anos de vida da criança, bem como no apoio diferenciado das famílias com mais filhos e menos condições sociais, designadamente agregados com mais de 5 pessoas, deveriam ter regimes especiais na aquisição de viaturas maiores, casa e outros apoios sociais. Então o que esperávamos agora?
*      Emigração – As atuais condições económicas, levam a que já não somos um país de acolhimento de emigração, que nas últimas décadas contribuiu largamente para o equilíbrio da população. E os nossos jovens em idade de procriar estão a ser forçados a emigrar. Então porque esperamos?

Mas também não me parece que seja um grande drama que a pirâmide etária esteja invertida. Os países mais prósperos e estáveis do ocidente, há décadas que têm essa situação (Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia e Canadá). E a Segurança Social é mais que sustentável.
De facto, há outras políticas que jogam com tudo isto, que já estão inventadas, funcionam e têm êxito. Só que não se compadecem com má gestão, mau planeamento, deseducação em lugar da educação, jogos de poder e protagonismos “bacôcos” de agendas políticas. Nem com perdas do dinheiro de todos nós em jogos de bolsa.

Se fazemos o contrário do que queremos, não somos senão uma sociedade esquizofrénica!

Luís Matias
Novembro/2012

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