Dizer a verdade, será sempre mentir?

Dizer a Verdade será sempre mentir?

O meu amigo Ivo Machado divulga na sua página do Facebook, diariamente, um projecto artístico (e mais do que isso), da sua esposa Georgina Efigénio, uma economista e artista plástica que iniciou há 317 dias um projecto inovador no mundo, que já teve honras de páginas inteiras em jornais nacionais, e comparações com outros projectos no mundo, muito menos ambiciosos, dos quais o mais próximo (mas léguas abaixo), nos USA.
As pedras questionam. Às vezes comento-as, no facebook do Ivo.
Este texto é um desses comentários, à pedra 317, colocada não se sabe onde, algures na cidade de Famalicão em 26 de Novembro de 2012.


·         Ivo Machado
Doces de pedra com palavras -#317

Frase: " Dizer a verdade será sempre mentir? "

http://georginaefigenio.com/?p=1703


 
Dizer a Verdade será sempre mentir?
Sim e não. Ambíguo? Com certeza… ou talvez não. Vamos esclarecer. Em certo sentido, dizer a verdade será de alguma forma “mentir”, porque a verdade não é um conceito tangível, absoluto, que se saiba exatamente o que é. A verdade é um conceito vago, sobretudo subjetivo. Subjetivo quer dizer: relativo ou sob o domínio de um sujeito. Portanto, em termos gerais não existe uma verdade, mas existes verdades para cada sujeito, para cada pessoa. Mesmo assim essas verdades não correspondem ao facto que a gera, à realidade do acontecimento, mas à forma como eu o apreendo, o vejo. É o velho e já tantas vezes abordado problema Kantiano da diferença entre o “númeno” (coisa em si) e o fenómeno (o que eu apreendo dele), no processo do conhecimento. Então a verdade, enquanto coincidência entre o facto a que diz respeito, e a forma como eu o afirmo e descrevo… verdadeiramente não existe. Por isso, cada um tem a sua verdade. Que o digam os juízes em tribunal, acerca da variedade de descrições sobre o mesmo acontecimento.
Também não poderemos dizer com propriedade que dizer a verdade é mentir, se considerarmos que a mentira é a negação consciente e deliberada da “verdade”, mesmo já considerada com as suas fragilidades de valor universal.
Outra pergunta interessante: Verdade é um conceito de valor universal? Como é que o conceito é tão utilizado nas sociedades, se afinal é tão pouco fiável, tão diverso, tão dependente da subjetividade? Há verdades universais? As verdades universais saem da esfera do racional, passam para o campo da fé. As verdades sociais só podem existir num contexto cultural e de educação. E aqui vemos o relevo que a cultura tem na vida das pessoas. Para se assumir uma “verdade” socialmente, é necessário que haja uma grande afinidade cultural entre quem a considera. Que as pessoas tem de coincidir imenso nos seus conceitos, princípios, formas de vida, conhecimentos, apreensão do mundo, interpretação dos signos. Desde logo a linguagem é um elemento chave (e vemos a dificuldade dos tradutores a fazerem boas traduções – se não estiverem dentro do espírito e do contexto da temática a traduzir, fazem asneira pela certa). Mas depois a interiorização da compreensão do dia a dia e dos objetos banais e correntes, dos conceitos morais… são ingredientes fundamentais para se aceitar uma verdade (verdade social), mesmo assim sempre polémica.
Então chegados à dicotomia de “verdade é mentira”… não deliberadamente, mas o certo é que não há verdade no concreto, mas verdades. Verdade assume-se assim como uma generalização, coloca-se como um conceito vago mas magno. Poderá colocar-se ao lado de outros conceitos como “belo”, “bom”, “felicidade” etc. Cada um tem a sua ideia/vivência destes conceitos, no entanto inatingíveis na sua plenitude e concretização final. É um pouco parecido com a linha do horizonte: Vemo-la acolá, podemos ir em direção a ela, quase que conseguimos definir exatamente onde ela está, vamos lá tocar-lhe… só que quando lá chegamos, ela não está lá, está sempre mais além, mudou de configuração mas está lá na mesma… mais além!!!
Uma das melhores mais marcantes frases dos evangelhos, foi proferida por Cristo e diz “A verdade vos libertará”. Não posso ter dúvidas de que o Cristo se referia em primeiro lugar à verdade de cada um, à coincidência entre aquilo que cada um faz e aquilo que pensa. É sem dúvida a coincidência entre a consciência moral e o agir. Claro que esta coincidência que liberta é absolutamente individual, em cada homem, dentro de si. Isso, naturalmente influencia positivamente o social. Mas é uma afirmação absolutamente dentro da reflexão que acabo de fazer.
Então tomem nota: “A verdade vos libertará”!

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