Uma nova Idade - Chegámos!

MUDANÇA DE IDADE
(O paradigma da História)
Os historiadores resolveram, para melhor compreensão dos processos, dos comportamentos sociais e do pensamento, dividir a história em épocas ou “idades”. Assim falamos de Pré-História (Idade da pedra e dos metais); de Idade Antiga (Oriental, antiguidade clássica e tardia), que vai até cerca do século III; Idade Média (Alta e baixa idade média), que vai até ao século XIV. O século XV contém a mudança para a Idade Moderna, que vai até ao século XVIII. O século XVIII promove a mudança para a Idade contemporânea, que marcou o século XIX e XX. Neste momento poderemos estar sob esse paradigma de mudança para uma Nova Idade.
Roger Garaudy comparou num dos seus livros a rapidez da evolução da humanidade com a rapidez a que o homem consegue deslocar-se. Durante milénios evoluiu lentamente porque a velocidade máxima a que se consegui deslocar, era a da corrida dos homens mais velozes. Mais tarde, quando inventou a roda, passou a deslocar-se mais rápido, agora à velocidade da corrida dos cavalos mais velozes. E a evolução processou-se mais rápida, mas em períodos de tempo ainda longos, porque não aumentou a velocidade. (A Idade Média durou cerca de 12 séculos). Com os descobrimentos, o homem, por força dos ventos no mar, consegui deslocar-se mais rápido, e a evolução das sociedades humanas também aumentou de velocidade, de tal forma que a idade moderna durou apenas 3 a 4 séculos. Na idade contemporânea a velocidade aumentou, com os motores a vapor e depois de combustão, no século XIX, e a sociedade evoluiu muito, mas no século XX muito mais rápido ainda, e à medida que se aumentou a velocidade, até à velocidade espacial, nos últimos 50 anos o salto foi absolutamente assombroso. É curiosa esta imagem, quase metáfora de Garaudy. A velocidade de hoje é vertiginosa e a aumentar tão rapidamente que, efetivamente, os padrões de evolução científica, tecnológica, social, da comunicação, que geram o tal fenómeno da “globalização, já não se compadecem com o modo como o homem vê o mundo. Criámos um outro paradigma. E na sequência da imagem de Graudy, estaremos bem às portas de ter de mudar de idade.
Há quase 30 anos, António Marques Bessa escreveu um livro chamado “Ensaio sobre o fim da nossa idade  no qual já tipificava com muita consistência e fundamentação, o paradigma que dita o fim de uma idade. Direi hoje que, provavelmente, já passámos para outra idade. Serão só os vindouros que colocarão a marca e o nome, mas a linha há-de coincidir com o início do milénio. A passagem da “idade Moderna” para a “Idade Contemporânea” exibiu de forma estrondosa uma rutura entre um tempo liderado pelo pensamento, que culminou com o Racionalismo e finalmente com o Idealismo, e uma nova época dominada por uma praxis industrial e comercial que mudou radicalmente o mundo com os novos processos de produção, invenções, dando origem a uma cultura “plebeia”, uma nova classe social e finalmente a um pensamento também dominado pela “praxis”. A economia viu-se liderada por outras mãos e outros princípios, os sistemas políticos também, e esta amalgama deu origem a duas grandes guerras que, paradoxalmente, desgraçaram sociedades do mundo inteiro, e foram o motor do desenvolvimento da ciência e da tecnologia.
Mas os sistemas que daqui resultaram evoluíram de tal maneira e tão rapidamente (recorde-se o citado paralelismo de R. Garaudy) que, em pouco tempo se esgotaram, não cabem em si próprios, e estão a criar novos paradigmas. Eis porque estamos a iniciar uma nova idade.
Tecnologia: Vai muito distante a velha máquina a vapor (mas passaram pouco mais de 100 anos). E também os velhos motores de explosão, com carros que faziam 4 Km/h. Exploramos o espaço na vizinhança da terra e enviamos veículos para fora do sistema solar. Comunicamos de uma forma fascinante, fabricamos materiais absolutamente de ficção, a partir de recursos há pouco insuspeitados. Não cabemos nos conceitos de há umas décadas. As nossas crianças já não conseguem imaginar bem uma máquina de escrever nem um gramofone. Um carro de 1950 é para eles tão fascinante como um dinossauro.
Educação e cultura: Não mudaram só os currículos, mudou a ciência, a forma de estudar, as ferramentas de aprendizagem. E também a forma de compreender e criar abstração. Usam a “raiz quadrada”, mas nem sabem o que isso é. Melhor, não sabem calcular.
Economia: A “era industrial” criou um novo desígnio na economia, teorizou-se, criaram-se métodos e globalizou-se o dinheiro. Primeiro, as coisas tinham valor. Depois convencionou-se que o dinheiro assumia o valor. As transações passaram a ter valor, depois ainda criou-se valor do valor e, finalmente, mais um paradoxo, criou-se valor do não valor, ou do valor expectável, valor a partir da dívida. Sim, vende-se dívida. Os modelos económicos atuais, estão completamente esgotados. A divisão do dinheiro por mais gente (fruto da globalização e e da evolução dos países chamados “emergentes”, vieram colocar uma nova ordem económica que desequilibrou e esgotou os tradicionais detentores do dinheiro. Hoje, estamos numa encruzilhada. Hoje o valor mudou para critérios voláteis, o que fez “crachar” a economia, e será seguro que um novo conceito de valor está a surgir, em rutura com as velhas teorias económicas.
Energia: Além das fontes naturais de energia, que sempre foram utilizadas na sua forma natural, sobretudo o sol, a madeira e, mais recentemente o carvão, a idade contemporânea colocou a descoberto um manancial de recursos energéticos, que permitiram a evolução tecnológica a uma velocidade estonteante, e que mudaram também o significado do valor e do dinheiro. Os maiores interesses financeiros do mundo andam até agora à volta das energias. Primeiro a energia a vapor. Depois a energia elétrica, finalmente o petróleo, que ainda domina. Mas tem os dias contados. Esse é outro paradigma para a mudança de idade. O domínio e a utilização massiva da energia, permitiu o desenvolvimento tecnológico e padrões de bem-estar nunca antes experimentados pela humanidade. O prejuízo para o equilíbrio da terra, bem como os custos de exploração e a finitude dos recursos, levam à procura de outras formas mais naturais mas mais elaboradas de energia. A tecnologia evolui também por isso. Ou seja, o novíssimo paradigma da energia, que proporcionou evolução rápida, bem estar e novo valor, está velho e caduco. Não fora os interesses instalados, e a energia que utilizamos bem como a forma de utilização, seria completamente outra. Mas estamos a mudar esse paradigma. A energia atómica, dádiva ainda da “idade Contemporânea”, vai ser melhor compreendida e dominada num futuro próximo. A energia do sol, do vento, das marés, de elementos naturais existentes em abundância como o hidrogénio, o próprio ar (comprimido), serão recursos mais baratos, mais eficientes e menos nocivos ao ambiente. O fim do paradigma do petróleo, pode ser indicador de uma nova idade.  
Comunicações: Dos velhos sinais de fumo, e dos correios personalizados montados num cavalo, até à invenção do telefone e telégrafo, foram muitos milénios. Mas daí até à comunicação por satélite em tempo real, foi um pequeno lapso de tempo. E até à globalização total das comunicações e da informação, foi um pequeníssimo lapso de tempo. Os últimos 20 anos representaram incomensuravelmente mais nesta matéria do que desde o aparecimento do homem até aqui. A questão é que há mais para evoluir e, sobretudo, esta evolução criou um novo paradigma na educação, nas consciências, na visão do mundo, dos indivíduos e das sociedades. A velha idade contemporânea já não consegue assimilar esta mudança!
Trabalho e emprego: A evolução tecnológica, a mecanização, a automação da produção, conjugado com o enorme aumento da população mundial (aumento da natalidade, redução da mortalidade infantil, aumento da esperança de vida), a inversão do conceito de valor, a má distribuição da riqueza num mundo globalizado e informado, já há tempos que colocou em risco os velhos conceitos de organização do trabalho. O trabalho desmaterializou-se muito e o seu controle exige novos conceitos, novos métodos, novas práticas. O velho mundo “contemporâneo” já não se compadece com isso. Uma nova realidade vai emergir rapidamente. Um novo paradigma neste campo indicará que estamos a mudar de idade.
Globalização - o paradigma do pensamento: O mundo mudou. De repente. Já não cabe nem nos espaço, nem nos conceitos da chamada “idade contemporânea”. Esta época de dois séculos abriu escancarou portas e janelas, deu asas, ensaiou voos, mas ainda assim tenta colocar limites, muros às suas teorias, ao pensamento. Mas de repente vê-se a explodir, não consegue conter a sua própria energia. Não consegue mais controlar os voos que induziu. Nem tem mais capacidade de reconverter as suas teorias. Estão gastas, velhas de novo. O mundo cada vez mais se desmaterializa, a abstração domina o pensamento, as leis da natureza. Cada vez se aplica mais às coisas físicas – que à física como ciência não há dúvidas; a mecânica quântica, inventada há apenas um “quanta” de tempo, virou tudo do avesso. A globalização mudou as consciências.
Uma nova Idade não pode ser um “bicho papão”. É o novo, é a consciência de que o universo tem um caminho, a humanidade tem um caminho. É a oportunidade de sentirmos a mudança. Ela é contínua, mas a nossa compreensão só a vê em saltos qualitativos. Este é o momento de ver esse salto. Felizes somos nós que o vemos e, sobretudo, que temos consciência dele. Umas décadas mais tarde, ao olhar para trás é que a história vai traçar a linha e dar-lhe um nome, mas é para nós um privilégio sentir que estamos em cima dessa linha. Pode causar arrepios de emoção, a consciência de que, provavelmente, somos os primeiros a provar desta nova experiência, desta nova emoção. Os homens e mulheres que viveram na “idade média” esperaram 12 séculos para que a história mudasse de cor. E não tiveram certamente plena consciência disso. Transpuseram a linha sem saberem. Nós ainda quase podemos vislumbrar a ultima linha, somos a geração que quase a viu ser ultrapassada, e estamos em cima de outra. É mesmo um privilégio.
Chegámos a uma nova idade!

Luís Matias
(Novembro/2012)

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