É sabido, e atestam-nos as
estatísticas, que a população portuguesa está a envelhecer. É bom viver mais
tempo. Agradecemo-lo à enorme melhoria da qualidade de vida e de salubridade
dos portugueses nas últimas décadas, às modernas conquistas da ciência e da
medicina e, finalmente, à excelência do nosso Serviço Nacional de Saúde que,
apesar de todas as críticas (fundadas ou infundadas), tem desempenhado um papel
fundamental nesta matéria, como aliás na proteção sanitária da infância.
E tudo estaria um pouco na
“rota da felicidade”, não fora a profunda crise que se instalou e vai
certamente alterar este cenário, bem como as vozes dos profetas da desgraça que
insistentemente anunciam a falência do atual sistema de segurança social, e o
envelhecimento da população quase como um drama sem retorno. Dizem que dentro
em breve, haverá menos pessoas em idade ativa do que aquelas que estão em
inatividade, o que coloca em risco o sistema de sustentabilidade. Visto assim,
até parece. Mas não pode ser verdade, que não haja caminhos novos para
solucionar problemas velhos. Queremos que as pessoas vivam mais tempo, que a
população rejuvenesça e que a proteção social melhore. Será possível? Claro que
sim.
Começando pelo fim… Claro que
a proteção social (dado que não temos petróleo nem ouro), só pode melhorar se
forem garantidos os fundos suficientes para esse equilíbrio. E só é possível
melhorá-los se houver uma justa repartição dos lucros (o que não acontece nos
cenários neoliberais), e os lucros estão dependentes do trabalho (da quantidade
e sobretudo da qualidade dele, e não propriamente da quantidade de pessoas a
trabalhar). A qualidade do sector produtivo e a organização do trabalho são
fundamentais para este equilíbrio. Há países que também têm a pirâmide etária
invertida (mais pessoas idosas que novas) e têm os melhores e mais sólidos
sistemas de segurança social. Claro que tem um sólido setor produtivo, uma boa
organização do trabalho, e muita mão de obra de estrangeiros. E isto, só por
si, parece suficiente. Veja-se a Noruega (que tem também recursos naturais),
Suécia, Dinamarca, Canadá, etc.
Se queremos garantir o
rejuvenescimento da população, teremos de rever as medidas de apoio à
natalidade. Sem entrar em discussões ideológicas e muito menos em agendas
políticas, constatamos que, nas últimas décadas, temos privilegiado a cultura
do combate aos nascimentos, pelo que me parece um pouco insano queixarmo-nos
daquilo que conscientemente decidimos. Construiu-se um bom e imprescindível
(desesperadamente necessário) modelo de “planeamento familiar”. Mas não raras
vezes, na prática, nem planeou nem educou, apenas fomentou a inibição da
conceção. Promoveu-se a distribuição generalizada de anticoncetivos, subsidiam-se
abortos, “pilulas do dia seguinte”, promove-se cultura de casamentos
homossexuais… tudo muito mais fácil de obter do que programas de fertilidade
para os casais com dificuldades de conceber. Temos promovido e subsidiado mais
nesta matéria uma cultura de esterilidade do que uma cultura de
responsabilidade e de promoção da vida. Portanto, se queremos inverter a
pirâmide etária teremos de alterar esta dinâmica. Não defendo o desaparecimento
do sistema legislativo de enquadramento das situações atrás referidas e que tem
estado como objeto de prioridades políticas. Defendo EDUCAÇÃO e informação para
uma cultura de responsabilidade.
E a primeira grande área em
que teremos de investir, passa pelo apoio às famílias.
Desde logo e como pano de
fundo, a garantia e estabilidade de emprego e de habitação, que promoverão o
centro e a sustentabilidade da família. Depois o bom acesso à educação e à
saúde. Estabilizadas as condições vitais do núcleo familiar, o estado deverá
ajudar pela formação e através dos programas específicos de “planeamento
familiar” a dimensionar a família de acordo com os desejos da própria família,
estimulando e não inibindo, e depois assegurar as condições necessárias para
que a família possa sustentar e educar dignamente as suas crianças. Já existem
alguns normativos legais sobre a proteção à maternidade e paternidade e alguns
incentivos na regulamentação do trabalho. Mas teriam de ser em grande parte
revistos e reformulados, uns, e criados outros.
Poderemos perguntar: mas como
é que um país pobre como Portugal, poderia inovar por exemplo o incentivo á
maternidade? Para responder, dei-me ao trabalho de verificar o que se passava
em alguns outros países europeus, e finalmente refleti genericamente sobre o
modelo Austríaco, aquele que melhor conheço, ajustando algumas ideias à
situação portuguesa. De notar que a Áustria é um país com um rendimento per capite muito superior ao português,
mas sem grande justificação, em nosso desprimor, porquanto tem sensivelmente a
mesma extensão de território, a mesma população, não tem mar, não tem recursos
naturais de monta, está quase meio ano coberto de neve, no último século levou
com 2 guerras e com estilhaços de outras tantas há poucos anos, acolhendo
refugiados, e esteve mais de meio século apertada contra a célebre “cortina de
ferro” que dividia os dois blocos dominadores do mundo.
Medida inovadora nesta
matéria seria, à imagem deste país, aumentar
a licença de maternidade (subsidiada) para o limite máximo de 2 anos. A
retoma de trabalho após um ano de
licença obrigatória seria um regime de opção, com a possibilidade de no segundo
ano prestar o serviço a tempo parcial, com a remuneração correspondente ao
tempo prestado, e o respetivo desconto na prestação social auferida.
Só é possível em países
ricos? Claro que não. Há até abundante argumentação do contrário. Vejamos:
A mãe acompanha a criança por
um período muito mais longo no início da vida, com todas as vantagens para a
criança, designadamente uma construção muito mais sólida da vinculação afetiva,
e melhor desenvolvimento das capacidades cognitivas iniciais, além de uma
atenção individualizada à criança, prestada pela própria mãe.
Facilita (nos casos em que
seja possível) o aleitamento materno, de forma efetiva e total. O tempo
improdutivo das 2 horas a que a mãe tem direito no horário de trabalho, para
este efeito, desaparece. Economicamente, ao aplicar esta medida, já só estaríamos
a retirar à atividade profissional da mãe 4 ou 5 horas diárias, dado de 2 já
estavam concedidas por lei.
O acréscimo de custos da
prestação social pelo aumento do tempo da licença será parcialmente compensado
pela diminuição da prestação social nas creches, dado que a mãe em gozo de
licença não teria direito, simultaneamente, a qualquer apoio para creche.
O impacto da maternidade
sobre o emprego (com este tipo de licença) seria muito mais benéfico que o atual
regime:
Uma
ausência da trabalhadora por 2, 4, 6, … anos (se o casal planear
coordenadamente e com êxito o nascimento dos filhos), permite á empresa
empregadora integrar outro trabalhador para substituir, e investir nele por um
período absolutamente rentável. Provavelmente quando a trabalhadora regressar á
atividade, o trabalhador de substituição estará em condições de permanecer,
pela prática e conhecimentos adquiridos, havendo um eventual efeito benéfico
direto sobre o emprego. Neste momento o que se passa em matéria de emprego é
que, a falta da trabalhadora por parto e licença de maternidade, leva
geralmente a empresa a contratar trabalhador temporário para substituição que
ao fim de 4, a 6 meses depois é dispensado, gerando um desempregado, a quem será pago um subsídio de desemprego (que por si só, financiaria a licença mais
alargada da mãe, constituindo praticamente o suporte do financiamento deste
sistema, retirando qualquer impacto negativo em orçamento).
Sabemos
que, além do mais, estes dois primeiros anos de vida da criança, provocam uma
grande falta de assiduidade da mãe com a respetiva improdutividade associada, bem como o
pagamento de subsídio de doença (que, assim, se constitui como argumento
financeiro positivo a favor da licença aumentada).
Seriam
retirados os apoios financeiros de creche durante os dois anos da licença de
maternidade;
Deixaria
o estado de pagar o subsídio de desemprego ao fim de 6 meses ao desempregado
que foi substituir a trabalhadora (nos casos em que ocorrer), e deixaria de ter
mais um desempregado na estatística.
Deixaria
de pagar (na vigência da licença), os inúmeros dias de baixa médica que a
trabalhadora terá, por sua doença ou da criança.
Verificaríamos então que esta
medida que parece de “ricos”:
Pouco ou
nenhum impacto financeiro negativo teria, nem para o estado nem para as
empresas porque o subsídio que se deveria pagar ao desempregado substituto iria
para pagar à mãe a licença de maternidade mais longa;
Constituiria
um bom estímulo quer para o aumento da natalidade, quer para o planeamento da familia;
Melhoraria
a produtividade contrariando o fator de imprevisibilidade na assiduidade da mãe
nos primeiros anos de vida da criança;
Um
impacto positivo sobre o emprego ao não gerar tantos desempregados com direito
ao respetivo subsídio;
Um impacto
positivo na saúde, designadamente pelo maior equilíbrio emocional da mãe e
criança; Possibilidade de aleitamento materno integral; Vigilância e
acompanhamento personalizado e individual da criança pela própria mãe; A
manutenção da criança em casa resultaria num menor contágio de doenças
infantis, poupando em consultas, internamentos e medicamentos.
Portugal merece: Idosos
saudáveis e felizes; Famílias sólidas; Crianças com futuro. Se conseguir terá
uma sociedade mais equilibrada e feliz.
Luís Matias
Agosto/2012
a Dinamarca (realidade que conheço um bocadinho, visto a minha irmã residir lá há vinte e tal anos e ser mãe de duas crianças), debatia-se com um problema grave de natalidade. Criou incentivos de tal forma bem implementados que em poucos anos as estatisticas mudaram. As mães podem ficar em casa com as crianças até estas terem 3 anos. As camaras são responsaveis tambem pela área social e enviam a casa dos recem nascidos um tecnico especializado que faz a avaliação da criamça, tanto fisica, como a nivel do ambiente que tem em casa (se são familias carenciadas ou de risco). A camara tambem garante que a criança tenha colocação no infantário mais perto da sua casa. Caso nasçam gemeos e haja necessidade de ajuda suplementar há uma pessoa que vai a casa ajudar.Alem dos subsidios que o estado disponibiliza como incentivos.A mãe tem ainda garantido o retorno ao seu posto de trabalho finda a licença de maternidade.
ResponderEliminarEnfim - outro mundo que não tem comparação com a nossa "pequena realidade". Temos que ter esperança que um dia tambem lá chegaremos.